Não é tendência: Vintage sem conceito

Eu passo muito do meu tempo detestando as tendências do design mundial e ainda assim imersa nelas. É uma mistura de asco com fascínio, uma coisa pra ser tratada com muitos anos de psiquiatria e remédios com tarjas das cores do arco-íris. Daí o brother Marcatto resolveu cutucar a onça com varinha de condão e me botar pra escrever aqui. Aviso que é bem provável que eu pare de fazer sentido ainda nas próximas frases, mas vamos acompanhar.

Meu assunto preferido, sabe-se lá porque cargas d’água são exatamente as coisas que muito me irritam. Não que seja difícil entrar por esse caminho. Mas como o assunto aqui é design isso serve pelo menos pra limitar nossa área de atuação em uns duzentos posts clamando “por favor parem de usar o mesmo grid pra todos os seus trabalhos”.

ilustrações antigas que tentavam retratar o futuro e hoje são referência vintage

Tenho notado nos últimos cinco anos uma grande tendência ao vintage. Um bom amigo me disse que as pessoas se sentem confortáveis com estéticas que rememoram o que viveram ou evitaram viver devido a incerteza do futuro. Muito poético, super romântico, mas meu amigo que me perdoe se eu vir mais alguém usando texturas vintage sem uma justificativa conceitual eu sou capaz de construir uma máquina do tempo e sair pelo passado dando spoiler da vida moderna que é pra galera começar a achar essas coisas toscas antes delas acontecerem.

O que acontece é que, mais uma vez as pessoas se deixam levar pela tendência a não pensar. Eu sei que é muito confortável, visto que pensar dá rugas e má digestão, entretanto é necessário um pouco de bom senso. Um brainstorm, uma seleção de ideias, uma geração de alternativas de vez em quando não mata ninguém. Engessar o seu pensamento dentro de fórmulas é o tipo de coisa nunca fez bem nenhum pra sociedade. Principalmente quando você é um profissional criativo. Essa nomenclatura maldita que deram a nossa profissão significa que, de vez em quando, a gente tem de fazer pelo menos um esforço pra não instragramar nosso design, pra não hipstamaticar nossa lógica.

Ao longo da vida eu aprendi uma coisa muito simples, de fato: tudo se entende melhor com metáforas. O que eu vejo por aí são os designers tratando seus produtos visuais como se trata um Hot Pocket. Requentando uma mesma estética pra vários clientes diferentes. Hoje, quando eu passo pelo behance eu morro de saudade da época em que a gente era obrigado, nem que seja por um professor muito chato de Prática, a dar alguma bola pra conceitos.

É basicamente isso. Enquanto vocês estiverem tentando vender salgadinho de padoca como caviar vocês vão continuar vendendo por preço de salgadinho de padoca. Funciona por um tempo bom, talvez até uma carreira inteira, afinal todas amam coxinha. O problema é aquela insatisfaçãozinha com a qual você vai conviver a vida toda, de nunca ter sido um irmão Campana porque nunca fez nada digno de um irmão Campana.

PS: esse lindo texto cheio de clichês mambembes foi a minha sutil maneira de mostrar pra vocês o quanto clichês são sacais. Parem de basear o design de vocês em clichês, por favor.

A Samanta Jovana é viciada em Alan Rickman, 30 Rock e cerveja gelada. Nas horas vagas brinca de designer e faz ilustrações pra Libretto. Agora, destila seu humor ácido aqui no blog com a coluna Não é tendência. =)

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