No Gramofone da Libretto: Charles Bradley

Há pouco mais de um mês uma amiga postou um vídeo no Facebook de um negro, com um mini black-power e alguns colares, cantando com uma voz fantástica, transbordando emoção. As feições variavam de um breve sorriso a mais profunda tristeza. Eu me apaixonei e quis saber quem era o tal Charles Bradley.

Ele nasceu em 1948, na Florida, e foi criado pela avó até os oito anos de idade, quando, e só então, conheceu a mãe e mudou-se com ela para o Brooklyn, Nova Iorque. Ainda criança foi levado pela irmã a um show de James Brown. O pequeno Charles ficou admirado com o suingue e a forma de cantar do “Rei do Funk”.

Quando adolescente fugiu de casa e foi morar nas ruas, até que se inscreveu em um programa público que oferece educação e capacitação para os jovens americanos. Aprendeu a cozinhar e trabalhou como chefe por dez anos na cidade de Maine, Nova Inglaterra, onde também montou sua primeira banda.

O sonho de se tornar um cantor parecia ter acabado quando seus companheiros na música foram mandados para a Guerra do Vietnã. Então, Charles largou tudo e foi rodar pelos Estados Unidos e Canadá, chegando a trabalhar alguns anos no Alasca, até se fixar na Califórnia.

Charles não desistiu e continuou tentando fazer o que sempre gostou – e sabe fazer muito bem! Com o dinheiro que economizou durante os anos trabalhando como chefe, comprou equipamentos musicais e foi tentar a sorte em Nova Iorque. Em uma de suas apresentações em pequenos bares, um co-produtor da Daptone Records assistiu ao show, gostou do que ouviu e o levou para gravar seu primeiro single, em 2002. Mas só no ano passado, 2011, Chales Bradley lançou seu primeiro álbum, No time for dreaming, com 62 anos de idade.

Ele chora, reclama, sua, fala sobre amor, amizade, sobre problemas atuais do mundo, misturando o moderno com o retrô, nas roupas até no jeito de cantar. O americano se mostra um veterano no soul e no funk, mesmo que para o grande público esteja sendo revelado só agora. O cara se entrega, coloca emoção em cada fraseado das músicas, auxiliado pela forte voz rouca. Ele parece não importar em se expor.

Charles Bradley é um exemplo de perseverança e, ao contrário do que ele afirma com o título do seu álbum, espero que ele ainda tenha muito tempo para sonhar, fazer boa música e provar que nunca é tarde para começar.

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Fred La Rocca é jornalista, odeia sonhar mas tem gostado de dormir.

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