Nunca na história desse país eu estive tão irritada (pelo menos não recentemente). Irritada com a burrice pseudo-democrática perpetuada pelo sistema no qual estamos todos inseridos. Mas a burrice nunca tinha dado um tapa tão grande na minha cara – de maneira generalista posso dizer que esse tipo de coisa deve piorar conforme a gente vai ficando velho.

E nunca fiquei tão velha e tão chata quanto essa semana. Vamos conversar por metáforas aqui: digamos que você é uma peça, dentro de todo um maquinário que já não funciona muito bem das pernas. Isso: você é uma televisão com uma antena um pouco avariada, mas que ainda assim consegue passar a novela das oito. Seus donos, cansados de não entender o que a galera balbucia por causa do chiado, resolvem substituí-la. Pobre anteninha.

No seu lugar colocam outra, que aparenta ser melhor por uma longa tarde, mas à noite já está atrapalhando de novo os donos a ouvirem os novos bordões da novela. Todo mundo fica indignado e – sinto que – deveria terminar essa metáfora por aqui, antes que cheguemos na parte em que o Pai de Família (um personagem que surgirá apenas de maneira secundária, porque o foco aqui é você, televisão) lhe arremessa pela janela. Um continho bobo em que quinhentos reais são jogados fora porque ninguém se deu ao trabalho de perceber que a televisão estava do lado errado da sala, próxima a um foco de interferência.

É assim o sisteminha pseudo-burocrático que eu mencionei lá em cima. Ele tem problemas pontuais que devem ser resolvidos de maneira pontual. É o tal do design né? Identificar o problema e resolver. Porém – aqui é aquela hora que vocês estavam ansiosos esperando – aparentemente não é essa a tendência. Transpondo a metáfora, o designer que tenta seguir uma metodologia e resolver problemas hoje está fora do mercado. Ele não tem no bolso 1.200 soluções bonitinhas lindamente organizadas em várias layers do Photoshop. Tá tudo tão corrido né? Não há mais tempo pra pesquisa, não há mais tempo pra pensar.

Seguindo essa perspectiva não há mais tempo pra escrever tudo o que aqui escrevo, nem pra você ler aí na sua casa/trabalho. Corre aí que o cliente tá esperando o layout ainda pra hoje. Pode só fazer algo bonito: a essa altura parece que ninguém liga mais se a televisão tá do lado errado da sala.

Sam Jovana é viciada em Alan Rickman, 30 Rock e cerveja gelada. Nas horas vagas brinca de designer, faz ilustrações pra Libretto e assina a coluna Não é tendência no nosso blog. =)